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Temos acompanhado os caminhos do Coaching desde que ele chegou ao Brasil, cuidando de preservar sua proposta original, uma conquista espetacular de aprendizagem, desenvolvimento, liberdade e democracia.

Parece estranho aplicar ao Coaching essas referências, enquanto esta palavra tem sido ligada indiscriminadamente às mais diferentes atividades para adultos, jovens e crianças. Sim, até para crianças virou moda Brasil afora. Pena que tenha muito pouco a ver com o significado original do Coaching.

Por que ligamos o Coaching original com aprendizagem, desenvolvimento, liberdade e democracia? Voltamos a lembrar aqui o que foi o início do Coaching e o que ele nos trouxe.

Todo professor competente se preocupa com a forma como a aprendizagem acontece, procura saber se seus alunos estão compreendendo o conteúdo de sua área, tenta descobrir métodos que facilitem a aprendizagem deles. Tim Gallwey, criador do Coaching, era professor de Tênis e, como tal, extremamente observador e interessado na forma de passar, para seus alunos, as técnicas que facilitariam a aprendizagem do tênis. Mas ele não era simplesmente professor: nos anos 60, aluno de Harvard, capitão do time de Tênis da Universidade, ele cuidava de seu próprio desenvolvimento num Ashram, trabalhando sua percepção e fazendo meditação. Assim, interessado de modo diferenciado em perceber a aprendizagem dos seus alunos, observando-os ao mesmo tempo em que se observava (atitude igualmente rara e importante), ele se surpreendeu com o que foi percebendo: que falava mais do que devia, que apontar erros prejudica o desempenho do outro, erros não apontados desaparecem com a melhoria do desempenho, mais se pede ao outro para relaxar menos ele consegue, imagens mostram melhor do que palavras, instruções demais são pior do que nenhuma e, também, exercitar repetitivamente produz resultados negativos.

Diante dessas descobertas, Gallwey se torna um facilitador da aprendizagem do outro, passa a observar mais do que falar, sintoniza com o que o outro lhe traz, posturas estas primordiais no Coaching por ele criado no início dos anos 70. Dá para se ver perfeitamente aí o jogo da liberdade e da democracia exercido por essa atividade. O aluno joga livre e solto de amarras, desenvolvendo-se naturalmente.

É interessante lembrarmos que essas posturas, tão importantes em qualquer relação de aprendizagem, puderam ser mais facilmente percebidas e conquistadas por Gallwey por ele trabalhar com atividades não verbais, jogadas, movimentos físicos dos alunos, expressões corporais. Para um professor de outra matéria, habituado a dar aula e a ter que pesquisar na linguagem falada e escrita como acontece a aprendizagem do aluno, essas descobertas se tornam mais complexas de serem constatadas.  Então, a partir daí, aprendizagem ganha seu verdadeiro conceito, passando a ser uma relação de transformação, na qual o professor ou o Coach se transforma, aperfeiçoando sua percepção e facilitando a ação do aluno ou Coachee, que se transforma na conquista do conhecimento próprio e na sua ação diária.

Além disso, ao olharmos o Coaching levado para os executivos de uma empresa, a partir dos anos 70, veremos que esta proposta mudou a forma de se pensar e oferecer atividades de desenvolvimento nas organizações: as escolhas passam a levar em conta as necessidades de cada profissional;  a palavra “desenvolvimento” ganha o seu real conceito e “treinamento” volta a se ocupar de atividades mais funcionais e práticas. Outra consequência importante da entrada do Coaching nas empresas é que, como inicialmente seu foco eram Presidentes e Diretores, esta atividade preencheu um vazio importante chamado de solidão do poder, do qual sofriam, em especial, os Presidentes.

Estamos nos referindo aqui aos primeiros 20 anos do exercício do Coaching, no Brasil a partir do final dos anos 80/início dos 90, sabendo que, ao mesmo tempo, as ofertas desta atividade no mercado foram se proliferando e se desviando dos conceitos originais, tomando caminhos errantes e tantas linhas de atuação que sempre dificultaram não só o entendimento do conceito mesmo de Coaching, como a escolha de quem busca a atividade para si ou para a organização na qual trabalha.

Enquanto isso, só mais recentemente nos demos conta de que essa confusão externa foi também, aos poucos, invadindo as empresas, abalando o cenário interno de várias delas. É impressionante e assustador vermos hoje a quantidade de formas de atuação diferentes, acontecendo dentro das empresas com o nome de Coaching. Muitos profissionais de RH fizeram cursos para “darem Coaching” para Presidentes, Diretores e outros profissionais das empresas nas quais trabalham.

E logo nos vem a primeira interrogação: para quem esses profissionais trabalham, para os profissionais/Coachees que atendem ou para a empresa na qual trabalham? Já imaginaram o envolvimento dos profissionais que se colocam nessa situação? Como disse recentemente, rindo, uma profissional de RH falando para outra profissional da área: se você me desse Coaching, acha mesmo que eu me abriria com você? Aí, sim, podemos constatar a mudança dessa atividade em algo completamente avesso a aprendizagem, desenvolvimento, liberdade e democracia. Vamos acabar nos deparando com fofocas, manipulação e autoritarismo, o que poluiria o ambiente da empresa, ao invés de instaurar ali o clima de Coaching, no qual todos conhecem a importância de sua função e trabalham cooperativamente nos objetivos e metas da organização como um todo.

É por isso que repetimos sempre: o Líder/Coach deve ter posturas de um Consultor/Coach, deve cuidar do desenvolvimento de suas equipes, mas não dá Coaching, atividade específica do Consultor externo à empresa que pode fazer isto com objetividade e isenção.

A sorte é que muito disso que é chamado de Coaching nem de longe tem a ver com o que Gallwey criou e dividiu conosco.

 

 

                                         (Publicado pelo site www.menteemharmonia.com)

                                                                                            8 de janeiro de 2018

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